sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Esfinge


Grego (transliteração: Sphinx, Phix)
Latim (Sphinx, Phix)



A Esfinge é uma das mais antigas figuras compósitas conhecidas da antiga Grécia, com nítidas influências egípcias e orientais. Trata-se de um monstro feminino com cabeça de mulher e corpo de leão alado, embora algumas variantes a mostrem sem asas ou com uma cabeça masculina e com barba ou ainda combinando outros elementos humanos, caninos ou bovinos.

Em Hesíodo, a monstruosa família da Esfinge inclui Equidna e Ortro, seus pais, e o Leão de Nemeia, seu irmão. Segundo outras versões, contudo, seria filha de Tífon e Quimera, o que mantêm a origem do seu hibridismo.


Esquerda: Esfinge em terracota encontrada em Murlo, Palácio de Poggio Civitate, c.589 a.C.

Museo Archeologico Nazionale, Fiorenza

Direita: Esfinge em mármore, coluna dos Naxos, Delfos, c. 570 a.C.

Museu Arqueológico de Delfos


Criatura cruel e caprichosa, a Esfinge matava todos os que por ela passavam, sob o pretexto de não conseguirem decifrar os seus enigmas. De acordo com os mitos, ela devorava os infelizes, o que só vem reforçar a sua desumanidade e afastar qualquer possibilidade de simpatia ou de identificação com o próprio homem: ela devora as suas vítimas com a sua parte humana, e não com a sua parte animal. Contudo, as diversas representações artísticas desta criatura não parecem sugerir a crueldade que transparece nos mitos. Aqui, ela surge frequentemente - pelo menos aos olhos da maioria - como um ser imponente, majestoso e vigilante, sempre atento no cimo da sua coluna.



Ânfora atribuída ao Pintor de Goltyr c. 560-505 a.C.

Tampa Museum of Art, Florida


A Esfinge teria sido enviada por Hera para castigar a cidade de Tebas pelo crime de Laio, que se apaixonara por Crisipo, filho de Pélops, e o raptara. Estabelecendo-se nas proximidades da cidade, ela assolava a região, devorando quem quer que passasse nas redondezas e que, obviamente, não conseguisse responder às suas enigmáticas questões. Somente Édipo foi capaz de as decifrar e, desesperada, a Esfinge suicidou-se, atirando-se de um rochedo.



Esquerda: Lekythos de figuras negras, c. 470 a.C.

Direita: Ânfora de figuras vermelhas, atribuída ao Pintor de Aquiles, c. 450-440 a.C.

Museum of Fine Arts, Boston


De acordo com outra versão, os Tebanos reuniam-se todos os dias na praça pública da cidade para tentar resolver em comum os enigmas da Esfinge, que todos os dias devorava um dos habitantes, que nunca alcançavam a resposta certa.

Figura mitológica e elemento iconográfico transversal à cultura artística das grandes civilizações da Antiguidade, desde Indiana à Assíria e, obviamente, à Egípcia, a Esfinge grega adquire um carácter particularmente dinâmico, quando comparada com as congéneres orientais e norte-africana.


Placa de marfim esculpida neo-assíria, séculos IX-VIII a.C.

Metropolitan Museum of Art, NY


Purushamriga, a Esfinge indiana.

Templo de Shri Varadaraja Perumal em Tribhuvana, Índia.


Imponentes, frequentemente hieráticas (embora não nunca desprovidas de expressividade) e sobretudo associadas à representação do poder soberano – simbologia que não faria sentido na Grécia clássica – as esfinges egípcias e assírias assumem frequentemente a forma de leões ou touros de corpos tensos e maciços, aos quais se assoma uma cabeça humana de clara associação à figura do rei ou do faraó. Andro-esfinge, crio-esfinge e hieraco-esfinge são variações do conhecido exemplo modular da esfinge egípcia, que se pode apresentar com uma cabeça humana, uma cabeça de carneiro ou ainda com cabeça de falcão. Já a Esfinge grega, possivelmente influenciada pelo modelo egípcio ou oriental, assumiu quase em definitivo o hibridismo entre o leão, a ave e o corpo feminino. Com uma presença mitológica claramente mais incisiva, a Esfinge teve na arte grega uma representação mais variada e dinâmica, moldando o seu aspecto (embora não os seus atributos físicos) e a sua linguagem corporal às diversas situações em que é representada.



Esquerda: Esfinge de mármore, c. 540 a.C., Museu da Acrópole, Atenas
Direita: Esfinge de mármore, c. 570 a.C., Metropolitan Museum of Art, NY


Receptáculo de um conhecimento que não suporta ver partilhado, a Esfinge é a senhora dos enigmas, um híbrido cruel pela sua própria condição não humana mas simultaneamente um híbrido soberano, impositivamente colocado no alto de uma coluna até à hora da orgulhosa rendição. Para os escritores, poetas e historiadores gregos, um monstro a colocar em necessário confronto com a superior força – física e intelectual – do herói. Para os artistas, uma figura a explorar no seu potencial simbólico e plástico, não tanto pela elasticidade das formas, como pela sua elegância.



Édipo e a Esfinge, vaso grego de c. 440 a.C. descoberto na Itália.

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