Grego (transliteração: Seiren, Seirenes)
Latim (Siren, Sireni)
As Sereias, ou Sirenes, são génios marinhos com corpo de ave, cabeça e por vezes também braços humanos. Segundo Ovídio, este hibridismo fora uma dádiva dos deuses para que as jovens pudessem procurar a sua companheira Perséfone por terra e por mar. Contudo, para outros autores, a transformação fora um castigo de Deméter, furiosa por elas não terem impedido o rapto da sua filha. Dizia-se também que Afrodite lhes tirara a beleza como punição por desprezarem os prazeres do amor, o que contraria a ligação que estabelecemos hoje entre as Sereias e uma fatal sensualidade feminina.
Oinochoe ático de figuras negras, c.525-475 a.C.
Callimanopoulos, New York, USA (colecção privada)
Estreitamente associadas à água desde o nascimento e ligadas por laços familiares a outros híbridos, como as Górgonas e a Esfinge, são quase sempre mencionadas como filhas do deus-rio Aqueloo - embora a atribuição da paternidade possa variar, sendo uma das opções outra divindade marinha, Fórcis, filho de Gaia e Ponto - atribui-se geralmente o seu nascimento ao sangue vertido por este deus após ter sido ferido por Héracles.
Mencionadas pela primeira vez na Odisseia, o seu número foi variando entre duas e quatro, daí que se lhes atribuísse a habilidade de cantar e tocar em terceto ou em quarteto.
Músicas exímias, com vozes irresistíveis, viviam numa ilha do Mediterrâneo (ao largo da península de Sorrento) e aí atraíam os marinheiros - os barcos aproximar-se-iam da costa rochosa, onde naufragavam, e as Sereias devorariam os tripulantes.
Esquerda: Sereia alada com lira
Canosa, Magna Grécia 340-300 a.C. (Foto: Maicar Förlag - GML)
D ireita: Sereia alada com lira de tartaruga
Século IV a.C. (Foto: Maicar Förlag - GML)
A sua ligação ao Além prende-se com especulações escatológicas posteriores, que fizeram delas divindades que cantavam para os Bem-Aventurados nas Ilhas Afortunadas. Acabaram assim por representar as harmonias celestes e é por isso que são frequentemente representadas nos sarcófagos.
Os Argonautas terão passado perto destes híbridos femininos mas o canto melodioso de Orfeu conseguiu abafar o das Sereias, pelo que os heróis não sentiram qualquer tentação de se aproximar, à excepção de Butes que se atirou ao mar mas foi salvo por Afrodite.
Ulisses e as Sereias
Vaso de figuras vermelhas atribuído a Python, c.340 a.C.
Antikenmuseen, Berlin
Ulisses, que fora avisado por Circe, logo que se aproximou do território das Sereias, pôs em prática um estratagema que lhe permitiu salvar-se a si e à sua tripulação e, ao mesmo tempo, satisfazer a sua aguda curiosidade: ordenou a todos os marinheiros que tapassem os ouvidos com cera e o amarrassem ao mastro, proibindo-os de o soltarem sob qualquer pretexto. Desesperadas por não conseguirem alcançar os seus lúgubres objectivos, as Sereias ter-se-ão então suicidado, atirando-se ao mar.
A longevidade iconográfica destes híbridos femininos é notável – apesar de terem sofrido algumas metamorfoses, a sua associação ao mar, e a sua intensa carga de fatalidade feminina permaneceram até aos dias de hoje. O carácter ictimórfico que lhes reconhecemos actualmente terá uma eventual origem na mitologia nórdica, trazida para a Europa aquando das invasões bárbaras, o que explicará em parte a coexistência das duas formas – a forma clássica, com corpo de ave e a forma actual, com cauda de peixe – na marginalia românica, como nos exemplos da região francesa de Charente Maritime, um na Igreja de Saint Fort Sur Gironde e outro na Igreja de St Mandé.
Sereias ictiomórfica e aviforme nas esculturas dos modilhões das
igrejas românicas de Saint Fort-sur-Gironde e St. Mandé.
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